Capitalism continually renews and reinvents itself. This helps us to understand the fact that despite its severe internal contradictions, contradictions that Marx anticipated would bring about the ultimate collapse of capitalism, the capitalist system has managed to remain vibrant over the centuries.
VICTOR D. LIPPIT, Capitalism
Contexto geral
Segundo o historiador Eric Hobsbawm o breve século
XX (1914 - 1991) foi
A Era dos Extremos e apesar de um viés socialista e europeu permear todo o livro, suas análises e erudição tornam a leitura incrivelmente gratificante. Hobsbawm termina o livro com a seguinte análise sobre o próximo século:
O futuro não pode ser uma continuação do passado, e há sinais, tanto externamente quanto internamente, de que chegamos a um ponto de crise histórica. As forças geradas pela economia tecno-científica são agora suficientemente grandes para destruir o meio ambiente, ou seja, as fundações materiais da vida humana. As próprias estruturas da sociedade humanas, incluindo mesmo algumas das fundações sociais da economia capitalista, estão na iminência de ser destruídas pela erosão do que herdamos do passado humano. Nosso mundo corre o risco de explosão e implosão. Tem de mudar.(...)
Se a humanidade quer ter um futuro reconhecível, não pode ser pelo prolongamento do passado ou do presente. Se tentarmos construir o terceiro milênio nessa base, vamos fracassar. E o preço do fracasso, ou seja, a alternativa para a mudança da sociedade, é a escuridão.
Começamos o século
XXI de uma certa maneira de forma idêntica a que começamos o século
XX, na tentativa (vã) de salvar um modelo sócio-político-econômico moribundo injetamos mais e mais recursos no próprio modelo o que lhe aumenta a sobrevida mas também aumentando a intensidade da ruptura quando esta inevitavelmente chegar. O modelo atual já teve sua morte cerebral detectada, respira por aparelhos e a um altíssimo custo. O momento da mudança arromba as portas do modelo atual e a má (ou boa) notícia é que não traz junto consigo um novo modelo. Viveremos os próximos anos (talvez boa parte das nossas vidas) na dor do seu parto.
Os Moribundos
- Ideologias: Enquanto o século XX em seu final testemunhou a morte¹ do comunismo o século XXI assiste em seu início a morte¹ da teoria dos mercados eficientes e auto-reguláveis. Também se coloca em cheque o estado de bem-estar-social. A religião e/ou a moral perdem cada vez mais espaço para o materialismo.
- Instituições: Assim como no começo do século XX as instituições internacionais vivem um momento de incrível perda de capacidade de liderança e credibilidade. Estão atreladas demais ao modelo moribundo ainda para liderarem a mudança. Resistem a compartilhar o poder com novos atores emergentes.
- Modelo político: Com a falência das ideologias de esquerda e direita criou-se uma espectativa de uma "terceira via" ou caminho para o centro. Sem ideologias ou planos os partidos se tornaram mais do que nunca meros meios para a disputa do poder, e os políticos se tornaram especialista na satisfação de interesses de curto prazo (visando popularidade) e fantoches dos interesses dos grandes doadores de campanha.
- Modelo sócio-econômico: Talvez o grande catalisador para a falência do sistema atual sejam as mudanças demográficas no mundo. Enquanto nos atuais países desenvolvidos do norte existe uma classe média em quantidade estável e envelhecendo nos países emergentes temos uma população no pico de produtividade e consumo adentrando à classe média. A sobrevida para o crescimento econômico desses países nos últimos 20 anos foi a expansão do crédito e esse caminho não só está chegando ao fim como começa a cobrar seu imenso preço. Por outro lado o crescimento nos emergente se deu pela exportação de produtos industrializados para os países desenvolvidos e grandes consumidores graças a farra de crédito (ou derivações, como emergentes exportando matéria-prima para emergentes exportadores).
¹
Ao menos provisoriamente, já que historicamente essas ideologias têm renascido e alternado no pensamento econômico dominante.
Admirável Mundo Novo
"O Sistema entrega a mão para salvar o braço, o sistema se reorganiza, articula novos interesses, cria novas lideranças" -- Capitão Nascimento.
Acredito ser absolutamente impossível nomear quais serão os ganhadores e perdedores no mundo que está por vir, aliás acostume-se a essa sensação de imprevisibilidade e surpresa já que elas serão cada vez mais frequentes nos próximos anos, ao menos até o final dessa década. No final de todo esse processo só tenho uma certeza: o Sistema Capitalista (de agora em diante chamado apenas de Sistema) e seus principais agentes (as empresas e corporações) sairão mais fortes do que nunca, mas esse caminho não será nada óbvio e muito provavelmente parecerá o contrário... mas o Sistema entregará quantos dedos e mãos forem necessários para sua sobrevivência bem como articulará novos aliados (China, Índia, África) para seu fortalecimento. Não se engane meu caro leitor, a Mão Invisível é engenhosa, de ferro e implacável! Aqueles que melhor servirem ao capitalismo serão os vencedores, e por isso que acho que não será dessa vez a queda do Império Americano, pois ele ainda é o país que melhor representa o Sistema hoje no mundo. Pelas mesmas razões acho que a economia Chinesa não ultrapassará a Americana
enquanto for um Capitalismo de Estado.
Uma das implicações óbvias da falência do modelo atual é o processo de desalavancagem inflacionário pelo que passará o mundo desenvolvido. Apesar de processos semelhantes já terem acontecido anteriormente com um ou outro país individualmente, essa será a primeira vez que Japão, Europa e EUA (responsáveis por 60% do PIB mundial) serão forçados a esse processo ao mesmo tempo.
Como se isso por sí já não fosse suficiente para deslocar placas tectônicas, os gráficos abaixo dão uma idéia da intensidade que terá esse processo (afaste os cardíacos e crianças do computador, as imagens a seguir são fortes):
Débito americano (curva Européia e Japonesa é semelhante)
Note que os 3 trilhões de dólares em reserva da China (a maior reserva financeira do mundo) sustentam os Estados Unidos por menos de 2 anos!!!
Impressão de dinheiro pelo FED:
Impressão de dinheiro pelo ECB:
Recessão, débitos insustentáveis, impressão de dinheiro e sistema político doente... não, não me refiro a América Latina dos anos 80 e sim aos EUA, UE e Japão! Porém enquanto naquela época esses problemas contribuíram de foram decisiva para o fim dos regimes militares na região existe um grande risco que agora os países com problemas cedam ao apelo populista do radicalismo xenófobo de extrema direita. Esses países passarão por um humilhante, lento e contínuo processo de empobrecimento... não faltarão oportunistas com o discurso do orgulho nacional beligerante ao longo desse caminho. Como nós brasileiros sabemos bem, é muito fácil jogar a culpa dos nossos problemas nos outros (FMI, EUA, etc).
Por falar em Estados Unidos, 2012 é ano de eleições. Suponha que o Obama se reeleja. Provavelmente ele perderá além da câmara o senado e não conseguirá governar pelos próximos 4 anos. Suponha que ganhem os republicanos... será um candidato comprometido com a redução de gastos governamentais (OK) e o não aumento xiita de impostos (Insano) no modelo falido de economia com religião a lá Ronald Reagan!
Já o Japão deve 200% do PIB e só consegue se refinanciar por que até então sua população extremamente poupadora financiava seu débito... porém esta população está aposentando e precisará fazer os resgates ao mesmo tempo que não existem jovens em proporção suficiente para manter os atuais déficits... inevitavelmente nos próximos (bem próximos) anos o Japão precisará de dinheiro externo para se financiar e dificilmente esses emprestadores aceitarão juros de 1% ao ano como o Japão tem pago atualmente....
Além de imprimirem dinheiro para pagar suas dívidas, os países pretendem assim desvalorizar sua moeda para aumentar a competitividade, porém num cenário de livro texto de
teoria dos jogos (
http://en.wikipedia.org/wiki/Race_to_the_bottom) quando os países mais importantes começam a fazer isso ao mesmo tempo se sabe que a única dinâmica aceitável para os demais jogadores é fazerem o mesmo, ainda que isso seja péssimo para todos ao mesmo tempo.
E qual a razão de eu ter escrito tudo acima? Por que a minha principal tese é que a atual crise não é uma crise, é uma mudança de paradigma! Não estamos vivendo um dos inúmeros ciclos de desaquecimento econômico de 1 a 3 anos que se você conseguir segurar a respiração tempo suficiente você estará OK (provavelmente melhor) logo após.
Esse é o novo normal pela próxima década, talvez pelas próximas duas décadas! Enquanto esse processo durar o normal será a turbulência e a ruptura, intercalados por brevíssimos períodos de tensa estabilidade. Períodos assim destroem e constroem fortunas rapidamente. É preciso estar vigilante e agir rápido.
E o Mulato Inzoneiro?
Brasil, Brasil: deitado eternamente em berço esplêndido ou um gigante que despertou?
Saberemos ao longo dos próximos dois anos...
Felizmente nos livramos de economistas ortodoxos-xiitas nos principais cargos de poder. O Tombini mostrou coragem e conhecimento ao "peitar" o mercado na redução de juros no terceiro trimestre, o que se provou correto logo em seguida. Esse tipo de pragmatismo, coragem e senso de proteção serão fundamentais para o futuro que chega.
Mas acima de tudo, temos a felicidade das mudanças demográficas estarem a nosso favor pelos próximos 20 anos.
Mesmo assim, nossas indústrias/empresas ineficientes e com zero de investimento em P&D terão cada vez mais dificuldades em competir com a invasão de manufaturados importados buscando nossa valiosíssima classe-média consumista (redundância?!).
Com as máquinas de impressão de dinheiro trabalhando como nunca, a tendência de médio prazo é do dólar, euro e yen se desvalorizarem absurdamente e ao mesmo tempo provocar uma disparada brutal no preço de bens '
no tradables' (serviços, imóveis, terras, etc) nos períodos de relativa e breve estabilidade no mundo. Um ponto fundamental para nosso futuro é: se os preços das commodities se mantiverem baixos por um período relativamente longo (18 a 36 meses) o Brasil conseguirá fechar as contas externas? O déficit de 2 bilhões só no mês de dezembro, por causa dos temores na Europa mostram como nossa principal fragilidade pode rapidamente se tornar um problema desagradável. Felizmente o Brasil hoje dispõe de reservas em quantidade suficiente para atravessar um período médio de turbulência, mas nesse período a solidez da nossa economia será bastante questionada e empresas com fragilidades ou serão resgatadas pelo BNDES (que ao contrário do que muito empresário pensa, não tem dinheiro pra todo mundo) ou irão desaparecer.
De qualquer forma para os olhos do investidor internacional o Brasil é um proxy de China e espirros por lá provocarão pneumonia no preço das ações brasileiras e a série histórica do nosso PIB desde o plano real mostra o como somos dependentes do crescimento do PIB mundial. Creio que seja impossível que a China chegue ao final dessa década sem um aumento significativo no número de protestos sociais pedindo por democracia e justiça (além de ar-puro e água potável).
Do ponto de vista político o PT tem um projeto de poder que consiste em, se possível (e felizmente não será), nunca mais sair da presidência e ele sabe que o baixo desemprego e (sensação de) crescimento econômico são a chave desse plano. Notem que aos menores sinais de PIB próximo de zero o governo rapidamente fornece incentivos para o setor automobilístico e linha branca. Se o desemprego aumentar fornecerá programas de estímulo ao setor que mais emprega, que é o de construção civil. Inevitavelmente viveremos nossa própria grande bolha imobiliária no final do nosso longo ciclo de crescimento... mas no longo prazo estaremos mortos, certo lorde Keynes?
Se existe um setor no Brasil que é digno de admiração são nossos principais bancos (Bradesco, Itaú e recentemente o BB), eles sabem como ninguém surfar nossa economia e possuem incrível capacidade de adaptação. Se o Brasil não fizer nada estúpido eles serão um dos setores que mais se beneficiarão.
Palpites para 2012
Já que é praxe nessa época do ano as pessoas mostrarem o quão são péssimas em prever o que vai acontecer, segue minha própria demostração de inabilidade preditiva:
- Recessão na Europa (essa foi fácil).
- Recessão no Japão (essa foi fácil).
- Recessão nos EUA (essa é menos óbvia).
- Volta do Occupy Wall Street.
- PIB brasileiro próximo de zero novamente, como juros em 8% ou menos no final de 2012.
- Dólar batendo um pico de R$2.50 em algum momento de 2012 e terminando o ano em R$2.00
- Obama perderá as eleições com suspeita de fraude em alguns estados.
- Petróleo cairá para US$50,00/barril em algum momento do ano.
- Nenhum país sairá do Euro em 2012.
- Ditador da Síria será deposto/morto pela ONU.
- Morte de Fidel Castro.
- China liderará o quadro de medalhas nas Olimpíadas de Londres.
- Não veremos em 2012 a explosão da bolha imobiliária chinesa.
- Sarkozi perderá as eleições.
- O Brasil terminará 2012 com mais desempregados que em 2011.
- Fortes terremotos no México, China e Europa.
- A OGX não irá extrair petróleo em Janeiro, atrasando novamente.
- Descobrirão fraudes gigantescas em balanços de pelo menos duas empresas brasileiras grandes.
- FED fará um QE3, maior que todos o outros QEs até então.
- S&P rebaixará a nota de crédito de vários países europeus, entre eles a França, Itália e Espanha.
- BCE comprará diretamente títulos da Espanha, Itália, França, Bélgica entre outros.
- China, India, Brasil, Rússia e África do Sul anunciarão medidas de estímulo a economia sem precedentes.
- Gafisa será adquirida por outra empresa do setor de construção civil, com dinheiro do BNDES, claro!
- Palmeira será campeão brasileiro com gol de mão na última rodada.
Estratégia de investimento para 2012
Totalmente óbvia, se você chegou até aqui lendo tudo acima:
1) Comprar fundos cambiais em Janeiro aumentando esta posição para 60% do meu portifólio, os demais estão distribuídos em debêntures do BNDES de RF e DI e ações da
BRFS3 e
INEP3 (está última depende do São BNDES... se fizeram o que fizeram com a Lupatech em 2011, salvarão a Inepar, mas esse papel para mim já deixou de ser investimento e virou especulação, de qualquer forma representa menos de 5% do meu portifólio).
2) Aguardar pacientemente a Bolsa despencar (para próximo de 40K), quando vendo os fundos cambiais e comprarei primeiro
ITUB3,
BBDC4 (serão as primeiras a subir na retomada) e MRVE3 (de olho nos estímulos do governo) e
CYRE3/
GFSA3 (esta última provavelmente será adquirida por alguém, estará a preço de falência),
VALE5 e
BRFS3 (claro!)
3) Se
HRTP3 for para baixo de R$300,00 vendo o carro e compro um lote (esta última é mais um caso de especulação forte, não façam isso em casa!).
4) Outra empresa que espero que entre em preço promocional para colocar no portifólio "NEVER SELL" é
FLRY3.
Independente de você concordar ou não com todas minha análises, espero que tenha sido bem sucedido em semear a idéia de que estamos vivendo
um momento disruptivo, longo e sem precedentes, portanto desconfie de todas as opiniões (inclusive as minhas), principalmente as que se apóiam em modelos mentais que deram certo nos últimos 30 anos nos EUA e Europa... "Ações são sempre o melhor investimento no longo prazo", "Imóveis são a melhor forma de garantir patrimônio com segurança" e principalmente que "a crise de agora repetirá o mesmo padrão de 2008" ou "o Brasil está fadado ao sucesso!".
Como já foi apontado por Karl Max: "A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa!".
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Feliz Ano Novo!!!